7 de agosto de 2009

Nunca somos idênticos a nós próprios

"Na verdade, mesmo que um animal passe por um ser vivo e idêntico a si próprio no tempo que medeia entre a infância e a velhice, mesmo que se afirme ser o mesmo, nunca é, na verdade, sempre o mesmo. Incessantemente rejuvenesce e continuamente perde o pêlo, a carne, os ossos, e o sangue e, não apenas no corpo, mas também no espírito. Costumes, carácter, opiniões, paixões, prazeres, aborrecimentos, temores, jamais qualquer dessas coisas se conserva sempre igual no nosso espírito, mas umas nascem e outras morrem. Mas, o que é ainda mais estranho, é que os nossos conhecimentos tão depressa nascem como perecem, e nunca somos idênticos a nós próprios."

Platão

in

O Banquete

(O Simpósio ou do Amor) pg.98

2 comentários:

Marisa disse...

De Platão aprecio particularmente, as frases que identificam os vários status do dito "amor", em meu entender é claro:

..."Quando um qualquer amante tem a sorte extrema de encontrar a sua outra metade, ficam os dois tão intoxicados com afecto, com amizade, e com amor, que não suportam ficar sem se verem um único instante...";
.."O amor dorme na terra nua, às portas das casas, ou nas ruas profundas por debaixo das estrelas do céu, partilhando sempre a pobreza da sua mãe… No espaço de um dia ora se revela vivo e brilhante, ora à beira da morte...";
..."O amor é pobre, magro, mal apresentado, sem sapatos, sem domicílio, sem outra cama que a terra, dormindo sob as estrelas, sem cobertores, junto das portas e nas ruas, irremediavelmente miserável, imitando a sua mãe...";
.."No mesmo dia, ao mesmo tempo, o amor é florescente, pleno de vida, e tudo o que é grandioso abunda nele, antes de desaparecer e morrer, antes de reviver de novo..";
..."Como o pai, o amor está constantemente na pista do que é belo e bom; é másculo, empreendedor, robusto, hábil caçador que usa sem cessar o artifício; cioso do saber, usa todos os estratagemas para o ter, passando toda a vida a filosofar, encantador, mágico, palavroso.."

(Platão, O Banquete)

Escrito à tanto tempo e tão actual...

CarMG disse...

:)
Gosto da primeira citação que, para mim, é praticamente a definição de Paixão, com toda a dependência e necessidade e posse que lhe está implícita!

E, sim, actual, sempre.