11 de setembro de 2009

Tricot da vida alheia

Vem! Podes vir agora. Não está aqui ninguém nem ninguém nos vai ver. Salta cá para fora com cuidado para não fazeres barulho e não te magoares. Assim vamos poder estar à vontade e, principalmente, vamos poder falar à vontade sem olhos nem ouvidos demasiados atentos e demasiado conclusivos. São sempre assim os olhos e os ouvidos alheios: cheios de conclusões basilares. Nunca conseguem ver nada para além daquilo que querem ver. Constroem histórias mais rápido que um novelista e o novelo que desenrolam é de tal maneira extensível, que me admira não tropeçarem nele em toda a sua extensão. Tropeçam outros que se deixam enrolar na conversa ao conversarem sobre o que não lhes diz respeito. Respeito quem não tricota esta teia alheia e nos deixa à vontade. Aos dois. Gosto de falar contigo. Gosto que gostes de falar comigo. Mas não gosto dos olhares indiscretos. Os de soslaio. Os diagonais. Não gosto que me julguem só porque não percebem. Perceberiam que estás aqui? Que és real? Que sempre o foste? Perceberiam se lhes explicasse que estou a falar contigo mesmo que, através dos seus olhos, não te vissem? Perceberiam se lhes explicasse que estou a falar contigo mesmo que, através dos seus ouvidos, não te ouvissem? Perceberiam… à sua maneira…

1 comentário:

Marisa disse...

Por vezes, só quem tem "telhados de vidro" se preocupa com "o tricot da vida alheia". Por mim e creio que por ti, podem tricotar à vontade... um dia calar-se-ão...