23 de outubro de 2009

Faço-o para não ter que o fazer em necessidade ou desespero. Faço-o porque preciso. Faço-o para não ter que precisar.

Sempre que passo por aqui. Por este sítio. Por esta rua. Por estas escadas. Por esta porta. E vejo o desenho da luz reflectido no chão como sombras chinesas pintadas a guache, tenho que entrar. Sempre o mesmo sítio. Sempre a mesma rua. Sempre as mesmas escadas. Sempre a mesma porta. Sempre Eu em busca do mesmo sofá. Tive que voltar cá. Aqui. Por mais que procure, não existe outro como este. O conforto das coisas que conhecemos. Daquilo que podemos palpar de olhos fechados. A segurança do que sabemos ir encontrar. A descoberta. De nós mesmos. Aqui. O desconforto da nudez sentimental destapada por palavras monossilábicas. O chão volátil que flutua por baixo dos pés, como que a fugir. Como que, para não fugir. A rede sem malha que desprende as lascas agarradas às paredes. Uma a uma. Fagulhas incandescentes queimam, incrustadas na pele. Mas só aqui. Neste sofá. Dentro deste cubo. Transparente para fora. Opaco para dentro.

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