2 de outubro de 2009

Exorcização dos Demónios

Adiou. Adiou. Adiou. Até que não foi mais possível. Até que se tornou impossível! Era hoje. Agora. Não suportava mais e não queria mais testar o limite dos limites que acreditava já ter atingido e ultrapassado. O limiar da sanidade ainda presente lado a lado com o abismo para onde olhava. A exorcização dos seus demónios só seria feita na presença dos mesmos, com ou sem padre. Com ou sem mãe. Com ou sem amanhã. Ámen.

Entrou.

Um a um foram aparecendo. Todos eles. Todas elas. Criações suas, da sua cabeça, da sua ficção, da sua vida, do seu dia-a-dia. Todos ali presentes no mesmo espaço contíguo, limitado, delimitado e apertado. Na escuridão. O sufoco da sobrelotação da cabeça e do corpo. Da irrespirabilidade do espaço e da mente. Um a um, na sua vez, na sua loucura, na sua obsessão. Encarnaria cada uma das suas personagens até as esgotar de tanto as sentir, de tanto se sentir, até se esgotar e degolar de tanto as viver com a violência latente que emanava de cada gota de suor que escorria. E cada gota salgada era um novo corte. E cada gota de sangue era uma nova obsessão. E cada novo corte uma nova personagem, que testava, continuamente, compulsivamente para não sobrar nada de nada do nada que o nada é. E ficar o vazio e o vácuo. O nada. A mudez. A cegueira. A insensibilidade. A ausência, onde ficava a planar até, a pouco e pouco, ir voltando a si. Parestésica. Despida das feridas e das queimaduras infligidas. Aos outros. Despida dos pensamentos e das histórias. Dos outros. E voltar a Si. Febril. Letárgica… Lenta e delirantemente...

Cá fora, de novo. Nova.

2 comentários:

llima disse...

assim, é bom poder ler

CarMG disse...

Assim, vale ainda mais a pena escrever