15 de junho de 2009

Teoria da Saudade

Saudade...
Sentimento tão nosso e tão incómodo.
Desde cedo que tenho uma teoria em relação à Saudade. Segundo Eu, só temos saudades das coisas quando estas foram melhores do que aquilo que temos no momento presente, de outra maneira não se sentiria saudade. Saudades daquelas férias maravilhosas passadas naquele sitio especial, quando o que temos no agora é o trabalho do dia-a-dia; saudades daquele concerto electrizante enquanto se ouve o CD no carro; saudades daquele vestido fantástico, feito à medida, que se estragou na máquina de lavar e não havia mais nenhum igual na loja. Não temos saudades das coisas demasiado banais ou que nos causam pesar. Não se tem saudades do dia em que se apanhou uma chuvada tremenda e se ficou três dias de cama com gripe, mesmo que também esteja a chover de momento. Da mesma maneira que não se tem saudades de visitar alguém no hospital, mesmo que a pessoa se encontre de novo doente. Ou, férias de novo, não se tem saudades das férias habituais, quando é desta vez que se está no tal sítio maravilhoso e especial. É, acima de tudo, um sentimento de comparação em que a nostalgia e a mágoa ganham um lugar de destaque. Portanto, Saudade... a evitar, ponto!
E, a evitar, porque para além de ser um sentimento relacionado com o lado mais negativo do sentimentalismo, lado chato, aborrecido, que quando intenso, tem a lata de nos perseguir durante horas, dias até!, não há sentimentalismo que aguente tanta lamechice.
Imaginando que a saudade está ligada a um objecto, para simplificar apenas, esta pode ser dividida em diferentes categorias: Saudade de Ter, Saudade de Estar, Saudade de Partilhar.
Passo a explicar:
A Saudade de Ter é o superlativo do sentimento na sua conotação possessiva. Sentimento de posse, portanto. Aquilo que se quer ter como nosso, abusar, deter, possuir. É o estadio mais intenso, mais recente em termos temporais e mais obcessivo. Logo, mais difícil de ser encaminhado para o esquecimento. O objecto é a matéria prima do sentimento em si.
A Saudade de Estar, por outro lado, já é um sentimento menos intenso, o que não lhe retira qualquer mérito nesta hierarquia do Eu. Não é o sentimento de posse que aqui se encontra presente, é sim associado ao prazer de estar com o objecto, pelas característcias do mesmo, sem ter a pretenção de lhas retirar, porque não as queremos para nós (e queremos no presente, porque se fosse no passado, a terminologia Saudade já não faria sentido).
Por último, a Saudade de Partilhar, que pode ser confundida com as restante, mas não se lhe associarmos o objecto correspondente. Trata-se do sentimento de partilha do objecto. Em termos gradativos, será a saudade menos intensa, mas mais bucólica, mais romanceada.
Pode-se assim dizer que a Saudade de Partilhar se relaciona com a partilha do objecto; na Saudade de Estar o objecto é o motivo da saudade, e a Saudade de Ter é a posse do mesmo.
Portanto, apesar de tão nossa, a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento do objecto, de nada serve para a nossa vida do que para nos fazer parar e pensar por breves momentos, convictos, mas breves, de forma a que tudo o que é o nosso presente, seja sempre melhor do que o passado.
Não era tão mais fácil se fosse sempre assim?

4 comentários:

Lina disse...

Para mim ter saudades e ter Saudade são duas coisas muito distintas.

Saudade, com 'S' maiúsculo, está intrínseca e inevitavelmente associada a um estado maior de melancolia, a uma parte de nós para sempre arrancada do nosso peito. Está associada à perda: de um outro alguém ou à perda de nós mesmos, deixados num "sítio" impossível de reaver.

CarMG disse...

Essa perda associada à saudade, aliás, Saudade, não tem que necessariamente definitiva. E impossíveis... também não há :)

ZapporssoN_81 disse...

realmente aí tens uma boa solução! À medida que ias desenvolvendo o raciocinio, também caí na resposta do viver o presente sempre melhor que o passado.
Dificil seria, mas possivel nunca deixará de ser...

Bjoka

CarMG disse...

Difícil e Possível são duas palavras que podem sobreviver perfeitamente juntas. O importante é tentar! Tentar o que for! E tentar viver o presente melhor que o passado é tão Difícil, quanto Possível :)