13 de junho de 2009

Almograve

Fecho os olhos. Vejo o Sol à minha frente, por cima de mim. Banha-me com toda a sua imponência. Empurra-me com a sua energia de encontre à areia e assim fico, indefeza, incólume, a absorver todo o seu calor, a sua força que me alimenta e me transporta. Fecho os olhos. Trio os barulhos que me rodeiam. Elimino os sons mundanos e triviais das pessoas à minha volta. Opto pela musicalidade do que me faz sonhar. O barulho do mar lá ao longe, forte e tenebroso, no auge da sua autoridade a ressoar como um trovão constante, um tenor na sua ópera, magnânime, que tudo faz vibrar. A rebentação das ondas, disritmicas, involuntárias, sequenciais. O seu permanente vai e vem, vai e vem, como o cucu de um relógio sem tempo. A espuma das ondas a desmoronarem. O resultado final da longa caminhada do mar até à costa. A sua efervescência borbulhante, não palpável, fugidia que regressa ao encontro da voz trovão. O bater das pedras umas nas outras, na corrente inversa à das ondas que buscam a areia. Pedras rolantes que embatem como uma multidão em hora de ponta e ecoam como tal, a caminho do seu destino primordial. O vento, o seu sopro audível, melodioso, arrepiante e convicto a serpentear os atritos da sua passagem, a percorrer os labirintos da vegetação envolvente que, revolta, nasceu onde lhe foi permitido, ao abrigo das intempéries. E os pássaros, que coroam o Sol e me fazem sombra nos meus olhos fechados. O seu chilrear como banda sonora daquilo que é, por breves momentos, o meu Paraíso de Verão: Almograve.

4 comentários:

Menina disse...

Nossa...
que profundo não?
gostei...
nesse texto tinham palavras que nunca vi na vida...
Amei!

CarMG disse...

Ainda bem :) Fico contente!!

Lina disse...

Costa Vicentina Forever!!!

CarMG disse...

"Dunas sao como divas
Biombos indiscretos d'alcatrao sujos
Rasgados por cactos e hortelas
Deitados nas dunas alheios a tudo
Olhos penetrantes pensamentos lavados
Bebemos dos labios refrescos gelados
Selamos segredos saltamos rochedos
Em cmara lenta como na TV
Palavras a mais na idade dos porque
Dunas como que sao divas
Quem nos visse deitados cabelos molhados
Bastante enrolados sacos-cama salgados
Nas dunas roendo macas
A ver garrafas de leo boiando vazias
Nas ondas da manha"

:)