15 de dezembro de 2009

Finas e cruéis da vingança gelada e sádica

Quantas vezes tinha passado por eles sem os olham. Sem, sequer, fazer um esgar. Uma mirada. Um olhar de soslaio. A alta velocidade. Em excesso de potência. Do ver. Do esquecer. Quantas vezes tinha decidido que não iria mais passar por aquele mesmo sítio. O que havia a provar em todas as vezes? Em todos os dias a que se sujeitava à mesma provação? À mesma privação. À mesma emoção… Na mão, era onde os imaginava… da imaginação, era donde não saiam… As memórias marcadas a cicatriz pelo corpo abriam-se como um fogo constante e acutilante. Os bordos, nunca totalmente unidos, afastavam-se com o ardor. O calor… insuportável no pico do Inverno. Angustiante no clímax do Verão.

De braços e pernas atados. A força da defesa e da fuga. Em vão. O pânico do que se sabia. Do que se seguia. E a ausência. Off…

Bonecos de cristal. De todas as formas. De todos os tamanhos. De todos os feitios. Mas sempre de cristal. Azul-transparente. Azul-brilhante- Azul-penetrante. As formas arredondadas, finamente trabalhadas, milimetricamente sentidas a cada centímetro de área corporal. Mutilada. De forma laboral. Artesanal. A peculiaridade dos detalhes. A arte. A dor. As arestas. Os picos. Os arabescos. Os rendilhados. Perfeitamente colmatados.

Na mão, era onde os imaginava. Um a um. Um por um. Sem restar nenhum. Na mão. Esmigalhados. Esborrachados. Espezinhados. Crucificados. Mastigados. O sangue escorria a gotas seguidas e constantes. O quente catársico da viscosidade vermelha escura pelo corpo abaixo. Pelo corpo de baixo. O manto eritrócitario que cobria o corpo que restava, agora sem nada para atar. Agora sem nada para mutilar. Mutilado estava. Em fatias. Finas e cruéis da vingança gelada e sádica. O sangue do corpo… não havia mais. O da mão, que escorria, chegava para libertar todas as mágoas, todas as histórias, todas as mutilações infligidas durante anos por bonecos de cristal danificados. Afiados como um diamante penetrante. E penetravam. De forma missal em tudo o que não era visível. Apenas sensível.

Restou o corpo inanimado de sangue pintado de cristais adornado.

Provou a mão que ficou da fúria trespassada de vitória conquistada.

Ficou na montra da loja um resquício de um tempo passado.

Guardou na cómoda a vingança sólida, fatiada e extirpada do presente…

6 comentários:

Anónimo disse...

Como gosto de te ler meu bem*

CarMG disse...

Obrigada minha linda*

|\|€§§i|\||-|@ disse...

brutal ... :)

*littledreamer*

CarMG disse...

:) :)

Luís B. disse...

Q maravilha...

CarMG disse...

As reticências deixam-me na dúvida... agradeço ou calo-me? lol