23 de dezembro de 2009

É na ausência da inexistência do pensar que o gelo começa

É na ponta do pé que o gelo começa. No pé direito. No dedo grande, não no pequeno, demasiado insignificante. Demasiado insensível. Dedo grande, gordo, direccional. Para cima. É para onde o gelo corre. Trepa. Em subida ascendente para o centro anómalo. Sobe que nem formigas carnívoras e devoradoras. Das vermelhas. Grandes como o dedo. Frias de sangue digerido. Como o medo. Trepam cada vaso, cada músculo, cada tendão, cada ligamento e ligam as extremidades distintas numa homogénese gelada. Congelada. Com nada a não ser a insensibilidade do frio…

É no peito que o gelo se instala. É no gelo que o peito se cala, submerso na profundidade da consciência. Ou na ausência da existência do pensar… picador de gelo, como no filme. Martelo pneumático que não quebra a pedra feita lava nem lava as lágrimas que escorrem, quentes, para afastar o frio. Pedra fria e consistente que na dureza da frieza sente e mente. Pela ausência, de novo. Pela consciência, de velha. Pela inexistência, de si mesma …

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