29 de maio de 2010

Nada como o jogo que nos tenta o olhar

"Chiu, não faças barulho agora: o filme vai começar!" E deixou-se ficar. No mesmo sitio. Na mesma cama. Atenta. Redobradamente atenta aos fotogramas em movimentos acelerados que corriam do outro lado do vidro convexo. Ou seria côncavo? A maleabilidade do plano visual em nada alterava a realidade que pensava observar através das lentes. Também elas maleáveis. Também elas adaptáveis. Também elas mutáveis naquilo que viam. Que liam. Que avaliavam. A concavidade apenas conferia à realidade a plasticidade que a cobria. A arte. A mão que toca e transforma o que se vê. Real a lente e os olhos. Adaptável o observado. As múltiplas personagens não permitiam descortinar quem era era quem. Em todas as transformações que decorriam, que se exibiam, apenas os corpos se mantinham. Apenas os corpos, nas suas danças em dissimulado movimento, no somatório das articulações permitiam adivinhar a constância estética do observável. De todas as personagens, a dificuldade estava em identificar a sua, qual peça de teatro em que se persegue o elemento identificativo. Mas mesmo aí os labirintos são íngremes e sinuosos, difíceis de contornar mantendo a mesma aparência. De novo a estética. O adorno do que se mostra para camuflar a confusão mental labirinticamente camuflada. Multifacetadas é como as personagens são. Adaptadas às paredes com olhos que as encapsulam. Que as deglutem sem degustar na ânsia do querer. A sua era única. Sabia-o. Bem o sabia. Sabia-o por demais. Tal como bem sabia a história. Não o final! Esse, ainda não o tinha vivido. Mas o meio... e o princípio? A colisão molecular que em quilómetros tentam simular. A quântica fisicamente simulada. Simulada? Não! O princípio não é simulável. O big bang é inato e não comandado. Controlado, apenas o decorrer... da história. Saborosos, os movimentos. A dança. A expressão. A intenção. O melhor de tudo. O que podia observar naquela cama sentada. No aquário instalada. Redondo. Cujo peixe vermelho há muito decidira abandonar. Nada como o jogo que nos tenta o olhar. Tudo.