A dança era de iniciação. De puro acasalamento. Colados pelo pescoço, lá por trás. Pela nuca. Eunuca de vontade porque a dança, a verdadeira, era inata e genética. Impossível de resistir ou escapar. Ecléctica. Mas poética de palavras não ditas. De adjectivos silabados. Comedidos. Desesperados. E tão, mas tão sentidos… Era também de sedução. A dança, como uma canção. Ritmada como uma melodia que não sai do olfacto. Tatuada aos ouvidos como uma perpétua récita em Dó Menor. Dança comigo, sim? De mão na cintura, como num tango. Rosa vermelha na boca, ao canto. Porque a dança é de satisfação! De emoção: pura devoção. A outra, a mão, no pescoço, aberta como a verdade, sem piedade do que de lá sai. Da boca. Vermelha como a rosa. De contenção. Afiada como os picos. Acomodação…
O enlear dos corpos dá-se na testa com a festa na ponta dos dedos. Quilómetros de pensamentos dedilhados em uníssono. Trilhos de palavras a médio grau tremidos. Impressões digitais não detectáveis na pauta tocada a piano e saxofone. Branco e preto. Quente e frio. Perto e longe. Como uma dança. Como o tango. De mão na cintura e no pescoço. E no corpo todo…