O silêncio incomoda-te? Sim. Incomoda. Não me sinto à vontade. Contigo. Em silêncio.
Eu incomodo-te? Nunca. Apenas o silêncio que ainda não sei aceitar. Contigo.
Desenvolve-se… com o tempo. Com o à vontade. Com a vontade.
Com o que se conhece… do outro. Ou com o que se deixa conhecer.
[Silêncio]
É das coisas mais difíceis de partilhar…
o silêncio?... sim… sim. O Silêncio. É um espaço íntimo, demasiado íntimo, que não se consegue partilhar com qualquer pessoa. Que nem sequer se quer partilhar com qualquer pessoa. O meu silêncio é só meu. Meu e de quem está comigo a viver o que não se diz, a pensar o que não se ousa, a querer o que não pode. No silêncio criam-se mundos…
só nossos… tão nossos…
[Silêncio]
Gosto de estar em silêncio. Contigo.
Gosto do teu silêncio para mim. Tão óbvio em mim. Contigo.
O silêncio? Os Mundos.
Criados? Ficcionados. É no silêncio que se ficcionam os Mundos, as Vidas. À noite que crescem, debaixo das Estrelas e da Lua, com vinho e conversa.
Os Mundos? Os sonhos…
Ficcionados? Sonhados. Como todos os sonhos. Quanto tempo duram…
os sonhos? não duram. São-no, enquanto existem. Enquanto são sonhados.
Até que se acorda. E fica a lembrança do sonho. No silêncio. Partilhado. Distorcido.
Turvo. Como o são todas as memórias. Moldáveis. Que são recordadas apenas no silêncio.
[Silêncio]
Apetece-te falar? Não, agora prefiro ficar em silêncio. Comigo.
[Silêncio]