4 de março de 2010

O mais perto de São Pedro a que consigo chegar

Em cima do escadote. No último degrau, como o Principezinho. Não com a doçura da descoberta, nem com a inocência da procura, mas com a certeza adulta de quem não tem respostas… No último degrau, agarrada ao céu e a fazer equilíbrio por entre os pingos da chuva. Grossa. Persistente. Que insiste em não deixar de cair. Dia após dia. Para que não a esqueçamos. Grossas, as gotas na estratosfera. Frias de gelo antárctico. Galáctico. E é no último degrau que toda Eu sou elas e elas nada de mim têm ou guardam ou são… Toda Eu, aqui. Frio. Gelado. Aleatório.

Em cima do último degrau. A chuva nada de novo traz. A não ser a certeza da sua existência, a constância de uma temperatura cinzenta e agreste. Tivesse eu uma capa até aos pés como ele, o Príncipe e saberia fazer as perguntas certas, as que não têm resposta. Que são para pensar. Mas não… Comum mortal em cima de um escadote… apenas as perguntas com resposta em que se evita pensar e cujo resultado fonética é desenhado no deserto do pensamento.

Com chuva. Subo os degraus todos, até ao fim, até ao limite, até ao último sem sair do mesmo sítio. O gelo, no topo intensifica-se. Não é neve. Não tem o seu silêncio de penas nem de lã. À chuva. Como ele. Não tenho uma ovelha para falar. Trouxe outros. Os de sempre. Os habituais. Os fáceis. Que ouvem a chuva como eu e sentem o descer da temperatura mesmos sítios. Como agulhas. Sem bisturi desta vez…

No último degrau. Inspiro até ao umbigo. Geodesicamente cheia de nada e deixo que a água escorra e lave e leve. No cimo do escadote estico-me até ao limite do alcançável, como que à beira do precipício para finalmente lhe tocar e, então sim, afastar a nuvem que acinzenta este deambular incerto…

4 comentários:

ZapporssoN_81 disse...

Tu que estás aí em cima, toma lá um plástico e estende sobre este nosso portugal...
Só assim, por dois dias que seja, tá?

CarMG disse...

Em cima do escadote. Com chuva. À chuva. No último degrau, perto do limite. Abro a capa, a do Principezinho. Empurro as abas, o forro, o tecido que, elástico, cobre o nosso Portugal desta chuva constante que se arrasta e lava e leva, leve,levemente, os maus agoiros e azares, os maus olhares e os pezares, e nos deixa, por fim, a ver o SOl que teima em não aparecer. Por querer?

Perdigoto disse...

Foste arranjá-la bonita...Vou lançar-te mais uns desafios.

Obrigado

CarMG disse...

Fico à espera!

Obrigada EU :)