11 de julho de 2010

Fetal

Enquanto se mexia, enquanto se tentava encaixar, à procura do seu lugar, da sua posição, da sua composição, do outro lado, os relevos eram notados como espelho: em simétrico. O antónimo do seu movimento. Se se esticava, criava um socalco no avesso. Se se encolhia, montanhas e vales se formavam, de um verde intenso e vibrante, ofuscante, como os campos na primavera. Os recifes, as fendas, os vulcões eram mera consequência da falta de espaço que cada vez mais sentia. Apertado, os metros. Curto, o tempo. Líquido, o sabor. Flutuava. Em câmara lenta, movimentava-se a par com as vibrações do vento que nunca deixava de soprar. Aquela brisa que o mantinha acordado, atento, vigil. Vagal, o reflexo da velocidade no seu microclima. Pouco a pouco as contracções a diminuírem, como o espelho dos vales. O espaço difuso, confuso. O oxigénio, rarefeito... Estava na hora. A pouco e pouco, enquanto se mexia, enquanto se tentava encaixar, à procura do seu lugar, da sua posição, da sua composição, do outro lado, o útero expurgava o seu conteúdo! Expurgava-o! Estava na hora... na hora de renascer.

4 comentários:

Anónimo disse...

Podes crer q sim.
amo a escolha musical, acho q vou vê-lo ao Algarve*

CarMG disse...

Eu vi-o no Coliseu em 2006 e, de novo, este ano, no melhor concerto a que já assisti!!!!!

Estou a ponderar ir ao Algarve, mas ainda ando em negociações ;)

I disse...

Às vezes gostava de entrar nos teus textos antes de "expurgados" e ver o que tu vês! Que emocionante seria! :-)

CarMG disse...

Um dia combinamos e eu mostro-te o que vejo antes de escrever :)

Ideal mesmo, seria vermos as duas e escrever cada uma à sua maneira! Que emocionante seria!

:)