27 de setembro de 2010

It

É sempre igual. Sempre... Segue por uma corda. Recta. Rígida. Por rectas e curvas. Em espiral. Segue como um equilibrista chinês que nunca pisou chão firme. It, chamemos-lhe. Não é Ele nem Ela. It. It caminhava hirto. Rígido. Quebradiço. O chão tinha a largura de um palmo. A planta era apenas do pé. A visão era da mesma largura. Dez centímetros de corda enrolada. Dez centímetros de visão periférica. Para a esquerda. Para a direita. A corda tinha curvas. Levada pelo vento curvava as tempestades. It. Andrógino. Não sentia o vento nem a chuva. Só não podia olhar para trás. De frente as cores corriam olhos adentro. Como o Mar rio adentro quando a Terra se encontrava de pernas para o ar. Mas mesmo aí seguia em frente. It. Cabeça para baixo, ligado pela planta à corda. A visão era cónica. A perspectiva era sua. Esguia. Escorregadia. E sempre, sempre quebradiça. A visão, como os passos, só seguiam. Retrocediam apenas de costas. Fugiam de trás para a frente. Porque de trás, onde a vista não olha. Onde o olho não vê. É a preto e branco. E sempre igual. Sempre...

9 comentários:

Lina disse...

Já os desafios nunca são a preto e branco. São de milhares e milhares de cores... :)

CarMG disse...

E quanto mais intenso o desafio, mais brilhante e luminosa a cor!

I disse...

Tão triste este texto! Mas sempre bonito :-)

CarMG disse...

Não tinha pensado neste texto como triste... mas agora fiquei a pensar...

Blogadinha disse...

Quando o olhar se fixa e o passo segue firme, o caminho só pode ser bom. Dá-lhe corda! :)

CarMG disse...

:)

"Lá vai ela, formosa e segura..."

Sofia disse...

A mim deu-me a sensação de prisão o texto... prisão na rotina, no medo, nos habitos, na desistência... uma prisão que se desenrola presa... Vou voltando aqui, gostei tanto! :-)

CarMG disse...

Mais claustrofóbico depois de lido do que ao escrevê-lo! Engraçado como os textos por vezes nos parecem uma coisa e depois, sai outra! Acho que ainda não me habituei a isso!

Sofia, obrigada pela visita, pelo comentário e por seguires :) Obrigada mesmo!

Sofia disse...

As palavras são metade de quem as escreve e metade de quem as lê! E realmente as vezes também me admiro com as interpretações... tem a sua piada! Há coisas que não se agradecem, naturalmente se merecem... e a mim naturalmente apetece-me voltar :-) beijo!