7 de abril de 2010

Deglutição

A inevitabilidade do poder do íman. A atracção sem limites das forças, opostas, que se atraem, que se traem e complementam. Que se aumentam. E colidem, numa simbiose longe de ser perfeita, rarefeita, como o ar suado que sobra desta deglutição. É o que os vícios fazem: deglutem. Deglutem sem degustar as carnes fracas, as partes intactas que sobejam aos molhes. Servido em bandejas de prata, com fita vermelha, como nas dependências das casas senhoriais. As forças sem atrito dos gumes que roçam na carne. Cotovelos gastos e ruçus de ajoelhar. Hábitos e vestes. Virtudes e despes. Porque, opostas, as forças ganham. As vontades falham. E os vícios, sustentáveis e inevitáveis... garantem sempre o seu lugar.

2 comentários:

I disse...

Texto denso, forte! Vício: desgaste, cansaço... mas quer-se sempre mais.

CarMG disse...

... como qualquer vício: quer-se sempre mais, mesmo sabendo o mal que irá fazer depois!