5 de fevereiro de 2010

Lá, onde ficaram as palavras

Tem que ser de olhos fechados. Sempre de olhos fechados. Semi-cerrados? Semi-encerrados? Encerados a mar... Abandonados. Olhos colados do avesso ao córtex, a nadar por entre os seios. Todos. Enrolados em hemisférios. Mistérios. Só assim se nota a assimetria. Sem mestria de não ver...o espelho, pelo outro lado... Fechados. Bem fechados.

A inspiração. Profunda... de novo... cheia. Ampla. Esgotante. Limitante na colagem das margens que não expandem mais do que a víscera que as prende. Ausente. Cola que descola com saliva e suor. Viva na latência do amanhã. O melhor... submerso...

O abandono. Total. Desmembramento. Desdobramento sobre si. Por si. Para si. O acabamento perfeito resultante de cada pedaço arrancado à dentada. Como um cão raivoso. A raiva. Que uiva à medida que a pele deixa de o ser. À medida que o odor desaparece. À medida que os líquidos escorrem pela terra. Se entranham. Sem entranhas. Digeridas pela bílis fermentada. Moldada. E o que sobra... Levita. Flutua. Paira. Voa sem asas num paralelo etéreo e inatingível. Transversalmente, ali ao lado... com os olhos bem fechados e o peito cheio... de voar... basta esticares a mão e arrancares as palavras que ficaram coladas na parede...

5 comentários:

IsaCruz disse...

Todos temos um "Lá, onde ficaram as palavras".
Ainda não sei se quero ir visitar o meu "Lá" (e o meu deve estar bem recheado). Quem sabe????... um dia, talvez sim ou talvez não.
Bonito texto.
Bjs

Anónimo disse...

Lá onde as deixamos.

dona-peppers disse...

O que sobra...e sobra tanto n e?!
Bom texto...xD

Beijinhu e bgd pelos coments...

|\|€§§i|\||-|@ disse...

Lá onde ficaram as palavras... no mais profundo... no prazer...
No reconhecer de um passado inesquecivel com tanta coisa que ficou por dizer... e lá ficaram as palavras ditas e com vontade de explodir para fora do nosso ser... do nosso Id... das nossas entranhas mais profundas...obscuras...

Muito Bom... sempre atenta :)

beijoka enorme

CarMG disse...

As palavras ficáram "lá" onde nós as deixaámos.
Porque não ousámos dizê-las. Porque não ousámos pensá-las.

Mas todos teremos que as ir buscar, mais cedo ou mais tarde, porque só na boca morrem, ao ganhar vida nos ouvidos.

Porque sobra sempre tanto por dizer nas nossas entranhas mais profundas...

Beijos**