30 de novembro de 2010

Cobiça


22 de novembro de 2010

O preço do jogo

Vamos ao jogo!
Vens ao jogo?

O tabuleiro está montado. Está sempre montado. Trás as peças. Xadrez! Vamos fazê-lo de forma contemporânea. Dandiesca. Trás o Eça e o Wilde. Xerez para beberem em copo de cristal. Bohémio. Não há outra maneira sedutora de o jogar. Monta as peças. Como um quadro. Como num filme. Os peões na frente. O protagonista atrás. A torre ao lado da Rainha e do Rei. As damas na outra ponta. É o teu jogo. Aguardares que a Rainha se dê a comer. A de copas. Roliça. Opulenta. Suculenta. Marie Antoinette no seu esplendor. Como nos contos. Ponto por ponto ficas no jogo. Lábios vermelhos desenhados. Que Maravilha, Alice. Esconde-te com requinte no chapéu enquanto a cabra, cega, corre atrás de ti. E sobe, sobe que sobe na tua própria pontuação. Adiciona ao espólio troféus. Monta bem? Dama dupla. King size. Corre de uma fiada à outra. Come de uma acentada. Não sobra nada. É o jogo. Peças. Peões. Paixões. Estilhaços. Experimenta-me. Dá-te. Aumentas de tamanho e és o papão. Come a papa, Joana. Come. Uma, duas, três. O trunfo é paus. Espeta a espada ao Rei. Tentador?
Ainda queres vir ao jogo?

Xeque-mate.

14 de novembro de 2010

De novo, do início, como novo

A adoração pelo perfeccionismo como catalisador de uma vida. A impossibilidade de dirigir essa mesma vida se não segundo um valor matemático, em que não há planos nem rectas côncavas ou convexas. Em que o espaço não se torce nem dobra sobre si mesmo. Em que as leis da física, seculares, servem como verdade absoluta. A sua verdade. À sua maneira. A sua física. A sua quântica. Recta! Medições milimétricas a régua e esquadro. O compasso para confirmar a sua razão. E as marcações a tinta da china, para não deixar lugar a enganos. De cinco em cinco milímetros, tick! Mais cinco milímetros: tick! Tick! Tick! Marcado como uma folha de cálculo. Uma prisão a preto e branco em que as linhas, rectas, perfeitas, milimétricas, verticais verificam que os pontos unem. A sua certeza. Recta.
Tudo tem o seu lugar no universo. Tudo. No seu! São leis! É a ordem.
Esterilidade. E um bisturi. Tiras de pele contínuas, equidistantes, nunca somente e apenas semelhantes. Iguais! Gémeas de si mesmas do princípio ao fim. Carris de comboios rápidos retirados do seu lugar com luvas de ourives. Numeradas em romano para nunca saírem do seu lugar exacto na imensidão do universo. Lágrimas de admiração para as lubrificar com o seu próprio ADN...

... agarrou-as, a todas, as tiras, num único novelo. Nem vértices, nem pontas, nem soltas, nem horizontalidade. Romanos misturados com poros e pelos e paixão. Misturou-as e formou um novo abecedário.