É o calor abrasador que leva a esta letargia. O fresco do cimento cinzento-brisa espevita as fibras musculares e aperta com os neurónios. Não estão habituados. Sempre trabalharam voluntariamente sem comando ou direcção. Ao abrigo de uma qualquer emenda sempre se impuseram perante a sua vontade. Até terem sido arrancados à casa mãe.
Os passos são múltiplos no cinzento-brisa. Os meus estáticos. Atolados até aos joelhos. Barro seco nas rótulas imóveis e geladas. É da brisa. Sentada no chão. Cinzento-
Tate. Brisa-
Britain. É o odor da arte que me faz repensar. Recriar os passos aprendidos. Odor forense. Redescobrir onde ficaram todos os pedaços desmembrados. Salpicados por aí, como uma tela.
Miró apanhou alguns e colou-os às riscas e riscos e pingos.
Dalí derreteu-os. E aqui, na
Tate, no cinzento-brisa do chão, os odores
contemporâneos apenas me podem avivar a memória.
O ventrículo a bater no meu lábio espicaça-me a vontade. É o esquerdo. A força do corpo sopra aqui. Jorra. Fui
pedaçada por etapas. Em tempos uma mão a mais. Borboletas que não me competiam. Agora um cimento nos pés. Uma letargia no corpo. Um pensamento que não é meu. Ao me
pedaçar, perdi-me. Deixei-me roubar. Ou ter-me-
ei dado?
Pondero regressar e pedir para ser
pedaçada de novo.
*
Pedaçar: acto de juntar por meio de cola humana partículas de corações e almas. (Verbo definido pela Lina e e tri-partilhado com a I)