27 de setembro de 2010

It

É sempre igual. Sempre... Segue por uma corda. Recta. Rígida. Por rectas e curvas. Em espiral. Segue como um equilibrista chinês que nunca pisou chão firme. It, chamemos-lhe. Não é Ele nem Ela. It. It caminhava hirto. Rígido. Quebradiço. O chão tinha a largura de um palmo. A planta era apenas do pé. A visão era da mesma largura. Dez centímetros de corda enrolada. Dez centímetros de visão periférica. Para a esquerda. Para a direita. A corda tinha curvas. Levada pelo vento curvava as tempestades. It. Andrógino. Não sentia o vento nem a chuva. Só não podia olhar para trás. De frente as cores corriam olhos adentro. Como o Mar rio adentro quando a Terra se encontrava de pernas para o ar. Mas mesmo aí seguia em frente. It. Cabeça para baixo, ligado pela planta à corda. A visão era cónica. A perspectiva era sua. Esguia. Escorregadia. E sempre, sempre quebradiça. A visão, como os passos, só seguiam. Retrocediam apenas de costas. Fugiam de trás para a frente. Porque de trás, onde a vista não olha. Onde o olho não vê. É a preto e branco. E sempre igual. Sempre...

13 de setembro de 2010

Pedaçando

É o calor abrasador que leva a esta letargia. O fresco do cimento cinzento-brisa espevita as fibras musculares e aperta com os neurónios. Não estão habituados. Sempre trabalharam voluntariamente sem comando ou direcção. Ao abrigo de uma qualquer emenda sempre se impuseram perante a sua vontade. Até terem sido arrancados à casa mãe.
Os passos são múltiplos no cinzento-brisa. Os meus estáticos. Atolados até aos joelhos. Barro seco nas rótulas imóveis e geladas. É da brisa. Sentada no chão. Cinzento-Tate. Brisa-Britain. É o odor da arte que me faz repensar. Recriar os passos aprendidos. Odor forense. Redescobrir onde ficaram todos os pedaços desmembrados. Salpicados por aí, como uma tela. Miró apanhou alguns e colou-os às riscas e riscos e pingos. Dalí derreteu-os. E aqui, na Tate, no cinzento-brisa do chão, os odores contemporâneos apenas me podem avivar a memória.
O ventrículo a bater no meu lábio espicaça-me a vontade. É o esquerdo. A força do corpo sopra aqui. Jorra. Fui pedaçada por etapas. Em tempos uma mão a mais. Borboletas que não me competiam. Agora um cimento nos pés. Uma letargia no corpo. Um pensamento que não é meu. Ao me pedaçar, perdi-me. Deixei-me roubar. Ou ter-me-ei dado?
Pondero regressar e pedir para ser pedaçada de novo.

*Pedaçar: acto de juntar por meio de cola humana partículas de corações e almas. (Verbo definido pela Lina e e tri-partilhado com a I)

9 de setembro de 2010

折り紙 do olhar

Deixa-me ler-te nas entrelinhas. Nas estrelas. Nas linhas. Nas minhas que traço com vontade dissimulada. Mascarada. Como se não quisesse. Deixa-me ler-te entre as minhas. Linhas. Nas estrelas à noite quando brilham. Nas formas que formam. Em linha. As estrelas. As minhas. Nas histórias que contam só de olhar. Nas histórias que se constroem só de imaginar. Deixa-me olhar-te por entre as linhas. Por entre os anos-luz. Por entre as estrelas. Minhas. Desejadas. Nas entrelinhas. Deixa-me...